É Conosco teve o prazer de conversar com Christine Hueck, que se apresenta como uma obsessiva colecionadora de sementes e produtora de mudas nativas. Colocamos aqui um resumo do nosso papo com esta pessoa tão inspiradora que, com suas atitudes em prol do planeta, vem transformando a região em que mora, próxima da cidade de São Paulo.
Veterinária por formação, morou por 25 anos no México num local semelhante à caatinga brasileira, um bioma muito lindo e rico que precisa ser protegido, e, devido à escassez de água, uma região muito difícil para o cultivo de plantas em geral.
Voltando ao Brasil, foi morar em um sítio em Itapecerica da Serra, um município localizado na zona sudoeste da Grande São Paulo, região que ela descreve como “uma explosão de natureza” onde, para sua tristeza, passou a observar um desmatamento crescente.
Imbuída da ideia de mudar esse panorama, mesmo não sabendo nada sobre mudas ou cultivo de árvores, foi estudando e aprendendo através dos seus erros e acertos, como uma autodidata “raiz”.
Hoje, diz que na natureza “tudo tem nome” e não gosta do termo “mato”, por ser muito genérico.
Substituiu 40 eucaliptos por 130 árvores “nativas”, que já estavam desaparecendo da área, e observou a resiliência da natureza que já domina o espaço.
Para ela, é fundamental trabalhar com plantas nativas para preservar as características dos biomas, até porque muitos insetos são específicos para a reprodução de espécies. A criação de abelhas (sem ferrão) nas cidades, por exemplo, é fundamental para fortalecer as floradas e plantas frutíferas. E já começa a perceber um movimento de paisagistas valorizando as plantas locais.
São Paulo é uma grande produtora de sementes
No começo Christine comprava mudas, mas com o tempo resolveu iniciar sua própria produção de árvores, garantindo ser possível fazer um viveiro gastando o mínimo, como nos demonstra seu estoque que hoje conta com 117 espécies de árvores em diversas quantidades.
Adquiriu o hábito de caminhar na mata ou pedalar em São Paulo; em seus percursos nas ciclovias e parques, se encontram diversas espécies de “nativas” e assim começou a coletar sementes para seu projeto. Agora, praticamente não compra mais mudas!
As nativas frutíferas são suas prediletas e, com o tempo, foi fazendo amizades (muitas delas virtuais) com botânicos e pessoas que compartilham de sua visão. Para se certificar sobre as sementes coletadas, utiliza muito uma página nas redes sociais intitulada Identificação de Plantas Brasileiras
Educação ambiental, conexão com a natureza
Começando pelas crianças, mas procurando sensibilizar também os pais, Christine tem organizado em parceria com escolas e comunidades o plantio voluntário de árvores, onde cada criança escolhe sua árvore, ajuda a plantá-la e, na placa indicativa, são colocados os nomes da planta e da criança que fez seu plantio. Assim, ela passa a se identificar e se sentir responsável pela árvore, acompanhando seu crescimento.
Uma face triste dessa moeda é que, às vezes algumas pessoas roubam as plantas frutíferas, frustrando a criança responsável pela árvore.
Christine nos contou que sua atividade começou de maneira solitária e até meio envergonhada. Acordava bem cedinho no domingo para plantar em espaços áridos, sem que ninguém a visse, como se fosse uma “eco terrorista”.
Hoje, Christine conta com pessoas que, como ela, acreditam no trabalho em equipe para um resultado maior.
Ela nos falou do Vitor Augusto, um jovem engajado e agregador, com quem faz uma dupla de produção e plantio. Vitor, que está sempre trazendo amigos para plantar, nos inspira:
“Plantar uma árvore é acreditar no amanhã, e eu acredito, sempre!”
Ela o conheceu através de Adriana Abelhão, fundadora da ONG Preservar Itapecerica que atua fortemente pela preservação do meio ambiente na cidade e que tem ações efetivas em favor da natureza, promovendo plantio, denunciando desmatamento e políticas públicas que não consideram o meio ambiente.
Christine conta que o seu desafio vem aumentando e que no ano passado plantou 650 árvores. Neste ano pretende chegar a 1.000 árvores, e está trabalhando para abrir uma reserva natural em sua propriedade.
Os custos para manter os projetos são altos, e para não depender do poder público para financiar seu sonho de floresta em pé, está montando uma empresa de crematório pet, entre outras iniciativas.
Somos sozinhos nessa multidão
Sua grande preocupação é a falta de apoio jurídico para combater o desmatamento que precede a especulação imobiliária e invasões ilegais que não consideram a importância da preservação do meio ambiente.
Também falou da dificuldade de encontrar pessoas comprometidas, e lamentou a passividade de quem quer ver tudo preservado, mas não faz nada, não sai de sua zona de conforto.
Cada um de nós pode produzir suas próprias árvores.
Christine é uma grande inspiração para nós e garante que com um pouquinho de terra e algumas sementes podemos ter nossas árvores e o melhor presente que pode se dar para uma pessoa é uma muda. “Se ela tiver um jardim, maravilha! Mas se não tiver é ótimo também, pois a pessoa terá que procurar um lugar para plantar”. Segundo ela, este é um bom desafio e nunca ninguém recusou um presente dela.
CURIOSIDADE: Em 2021 o número de árvores plantadas na cidade de São Paulo foi o menor desde 2016. Além das que não foram plantadas, muitas das árvores retiradas por questões de segurança não foram replantadas.
SERVIÇO:
Se você se interessou pelo o assunto e quer começar a plantar árvores, destacamos no texto os links sugeridos pela Christine e abaixo, algumas informações complementares que poderão ser bastante úteis:
Plantio de árvores em calçadas: através do Portal de Atendimento da Prefeitura de São Paulo - o Portal 156, as pessoas que desejam o plantio de árvores nas calçadas ou passeios públicos em frente ao seu imóvel podem realizar gratuitamente uma solicitação. Para obter mais informações, acesse o Portal 156.
Pensando em auxiliar o processo de reflorestamento em diversos pontos do país, o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF) criou o projeto “Plante Árvore”, onde mudas de plantas são doadas gratuitamente para que áreas desmatadas comecem a ser ocupadas com plantas nativas.