Algumas vezes o portal É conosco conta com a escrita precisa e engajada da jornalista Lúcia Helena Camargo, formada em comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Seus textos sempre têm muita informação, fruto de incansável pesquisa e vivência que nos ajudam a compreender a pauta ESG.
Pedimos a ela que nos explicasse de onde veio sua veia ativista que usa o jornalismo como ferramenta de engajamento nas questões da sustentabilidade acreditando que a história dela vai inspirar você que nos acompanha.
“Sou jornalista desde 1990, mas muito antes já era militante em causas ambientais, sem me dar conta disso”.
“O combate ao desperdício foi uma constante desde cedo. Minha mãe, Maria Clara, sempre foi muito atenta ao aproveitamento de alimentos, objetos e materiais.”
Jornalista Lúcia Helena de Camargo
A centelha: nada de desperdício em casa
“Com a sobra de feijão do almoço, ela engrossa a sopa do jantar; pequenas porções de vegetais vão para o congelador, para em outro dia se unirem em um cozido. Nenhuma quantidade é pequena demais para ser guardada. Ela armazena tudo em potes nos quais cabem a exata quantidade do que sobrou. Então ela monta o “tetris” perfeito para acomodar tudo no congelador, dentro do qual só ela sabe quais são e onde estão cada uma das comidas guardadas. Mas o sistema funciona. E não há risco de um filho, sobrinho ou outro parente chegar de surpresa e ficar sem almoço. O almeirão para a salada vem do quintal; manga para o suco também, porque ela cultiva alimentos, para tê-los à mão e frescos. Ela completa 80 anos em 2023. E sempre foi sustentável, muito antes da palavra virar moda.”
Trajetória sustentável
“Minha primeira matéria sobre a questão ambiental foi feita para o projeto experimental de jornal da faculdade. Depois, passei por diversos veículos de imprensa, como Folha de S. Paulo (dois anos), O Estado de S. Paulo (oito anos), Diário do Comércio (11 anos), um tempo na comunicação corporativa e há dois anos estou de volta à grande imprensa, como colaboradora regular da área Prática ESG, do jornal Valor Econômico, focada em matérias da área ambiental.”
“Cheguei a pedir – e obter – credenciamento para ir à 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a Conferência das Partes da UNFCCC, ou COP 27, cujo tema principal foi a emergência climática planetária. Como a intenção era participar como repórter freelancer, faltaram os R$ 25 mil que gastaria com passagem e hospedagem. 😊 Talvez vá à Cop 28, em Dubai. Pelo menos na Cop 30 eu quero ir sem falta! Já que Belém (PA) é candidata a hospedar a conferência.”
Mobilidade urbana, saúde e meio ambiente
“Ao longo de dois anos, entre 2006 e 2008, tivemos, meu irmão Henrique e eu, a revista Becicle: uma revista dirigida a ciclistas, que circulava na região de Sorocaba, interior de São Paulo. Além do tema da mobilidade urbana, falava de saúde e de meio ambiente. O projeto, a diagramação e as fotos eram da autoria dele, publicitário e apaixonado por bikes desde sempre. Eu fazia os textos e a edição. Era mais ativismo do que trabalho.”
“Jamais deu lucro, mas era muito divertido, disseminava a cultura do ciclismo, que cria solidariedade entre as pessoas. E fizemos algumas edições das quais nos orgulhamos.”
Economia circular, na qual o lixo não existe
“Hoje, a economia circular é um objeto de estudo. Mantenho contato regular com fontes do Instituto Lixo Zero, acompanho online cursos e treinamentos da Fundação britânica Ellen MaCarthur, entre outras instituições. Porque acredito que se a humanidade quiser uma chance de se manter, precisa abandonar a economia linear, adotando a circular, na qual lixo não existe.”
“Dá trabalho ser sustentável. Mas a gente tenta. Diariamente, separo todos os resíduos da casa e encaminho à reciclagem. Embora saibamos que reciclar não é a solução ideal no longo prazo, é a alternativa possível por enquanto, para tentarmos melhorar a taxa de resíduos que voltam à cadeia produtiva no Brasil, que atualmente não passa de 4% do total. Ou seja, das 80 milhões de toneladas de lixo geradas pelo País todo ano, mais de 76 toneladas continuam indo parar em aterros e lixões. Bora mudar isso?”
Ao falar em ecologia, estamos falando de natureza e não de dinheiro
“Gentes, já que posso falar em primeira pessoa, quero espernear um pouco: parem de falar “ecossistema de negócios” para se referir aos sistemas interligados de empresas! Não aguento mais ver esse termo nas comunicações empresariais. Na minha opinião, esse uso conspurca a palavra “ecologia”, colocando-a a serviço de algo pouco nobre. “Ecologia” tem origem no grego “oikos” e significa estudo das interações entre os seres vivos com o ambiente natural no qual estão inseridos. Ou seja, negócios, finanças e cifras são outra coisa, totalmente diferente. Ao falar em ecologia, estamos falando de natureza e não de dinheiro, ações para atingir resultados. Claro, os empresários antenados já entenderam que para se ter lucro é preciso que existam pessoas, que o planeta se mantenha saudável. Mas ecossistema continua sendo um sistema que envolve natureza e não negócios.”
Ativistas
“Por fim, o convite para escrever este texto incluía a dica para lembrar conversas com ativistas. Então listei aqui alguns dos encontros mais significativos, com frases proferidas por pessoas com quem conversei para produzir matérias, entrevistas e artigos.”
Txai Suruí – setembro 2022
“A devastação afeta a todos. A agricultura perde irrigação pela falta de chuvas causada pelo desaparecimento dos rios voadores e em outros lugares há secas gigantescas. No Brasil, temos milhões de pessoas passando fome. Só existe uma resposta para termos futuro como humanidade: vencer a crise climática.”
· Txai Suruí, líder indígena da etnia suruí, única brasileira a discursar na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - COP 26.
Luc Ferry - setembro 2022
“Atenção aos empresários: a reciclagem e a economia circular farão vocês ganharem muito mais dinheiro.”
· Luc Ferry, filósofo francês, professor de filosofia e político engajado em favor da União por um Movimento Popular.
Cristiane Cortez - janeiro 2021
“Temos de cobrar ações das empresas e dos governos, mas ainda falta um sentimento de responsabilidade individual”.
· Cristiane Cortez, assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP.
Frans Krajcberg – maio 2008
“Este é um País tão rico, mas o problema é que tudo está na mão de poucos, que exploram as riquezas em proveito próprio”.
· Frans Krajcberg (1921-2017) artista, polonês naturalizado brasileiro.
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