Na procura por histórias interessantes e inspiradoras de pessoas que buscam uma vida mais significativa, É conosco conversou com a gestora de negócios Maria Silvia Monteiro, diretora executiva da Íntegra Estratégias ESG, que promove a união dos temas social e meio-ambiente com uma governança mais consciente. Ela é uma das coautoras do livro “Mulheres ESG” que reuniu 31 executivas referência deste mercado.
Formada em Comunicação Social, trabalhou em agências de publicidade, RP, promoção e eventos conquistando uma visão integrada da Comunicação. Ocupou posição de liderança no BankBoston e Banco Santander. Neste último, no ano de 2000, como Superintendente de Comunicação, foi responsável pela estratégia de unificação das marcas Santander e Banespa.
Desde 2009, está envolvida com projetos de responsabilidade social.
“Aos 36 anos, eu era uma das poucas mulheres atuando em cargos de liderança. O mundo era muito masculino”.
Maria Sílvia Monteiro
Em 2000, a presença feminina em cargos de liderança não fazia parte da agenda. Sequer era uma questão! O modelo corporativo que prevalecia era o dos valores masculinos, como a competitividade, a gestão por conflitos, a defesa de interesses particulares e o resultado e bônus do “tipo doa a quem doer”. Neste ambiente, não havia solo fértil para valores femininos como empatia, colaboração, aprendizados e tolerância mínima a erros.
Sem ter consciência do quanto este modelo é nocivo para a saúde mental e física, aos 40 anos, o seu corpo deu o sinal de alerta. O desgaste era visível, mas naquele tempo, não se associava o esgotamento emocional, resultante de um ritmo perverso das organizações, com saúde. Hoje, isso tem nome e cuidados preventivos: burnout.
"É preciso que exista realização interna para se entregar algo de valor para o mundo".
Maria Sílvia Monteiro
Na busca pelo autoconhecimento, deixando fluir a potência que nasce da introspecção e sem qualquer orientação, Silvia começou a sua jornada interna. Percorreu linhas filosóficas diversas até chegar à prática da meditação. Autoconhecimento é um estudo que requer dedicação, diligência, ritmo e muita resiliência. Através dele, acessou crenças limitantes, traumas, ilusões e compreendeu mais sobre a consciência da pessoa que é. Autoconhecimento tem sido a faculdade da vida. Sem data para terminar e com direito a repetir alguns anos de vez em quando.
A prática da meditação entrou em sua vida e ganhou força quando foi fazer a faculdade de meditação na Índia, pais que voltou algumas vezes mais tarde.
Surgiram vários questionamentos sobre a forma como ela liderava sua própria vida e isso impactou fortemente sua atividade dentro das organizações.
Impossível não associar essa jornada interna com a mudança de perspectiva sobre o papel das empresas na vida pessoal. Na busca por desenvolver um novo projeto, encontrou o livro “Capitalismo Consciente: como libertar o espírito heroico nos negócios”.
A partir deste projeto, seu interesse pelo tema a levou a participar ativamente do movimento global Capitalismo Consciente, que criou uma visão de negócios baseado em 4 pilares: proposito, liderança consciente, cultura e relacionamento com os stakeholders. Era o prelúdio do que hoje conhecemos como ESG.
“A pandemia foi um grande catalizador de transformações na relação das pessoas com as suas empresas”
Maria Sílvia Monteiro
Na sua visão, a desaceleração e o isolamento compulsórios fizeram com que as pessoas prestassem mais atenção em si mesmas. Isto teve um impacto definitivo na vida e na forma como vemos e nos relacionamos com o trabalho.
A primeira coisa que se questionou foi a sua relação com o trabalho: minha profissão me realiza? Sou feliz com o que faço e para quem trabalho? Vale a pena as horas dedicadas ao trabalho? E a minha qualidade de vida? Minha empresa compartilha dos meus valores e do meu propósito?
Surge a necessidade de um novo tipo de liderança.
“O mundo mudou – e quem lidera essa mudança ainda é o mercado financeiro”
Silvia simplificou as definições: a Sustentabilidade é a estratégia de uma empresa sobre como ela vai colocar na prática os objetivos relacionados aos temas sociais e de meio ambiente. E, principalmente, vai dizer como a Governança vai suportar todo este planejamento. ESG tratará de como as empresas farão a mensuração destes esforços, divulgando ao mercado, o valor agregado e os riscos mitigados.
Há muitos interesses em jogo nesta agenda. As maiores empresas sofrem pressão de todos os lados para seguir novas diretrizes. Por outro lado, a maioria não foi tocada pela urgência desta agenda e anda a passos muito lentos.
Uma coisa é certa: o mercado financeiro está atento e pressionando para as empresas aderirem a agenda e fazem isto porque investir em empresas sustentáveis traz menos riscos.
A ONU tem liderado a agenda 2030. O Pacto Global atua junto as empresas encorajando-as a aderirem os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e estimulando-as a reportarem os seus avanços na agenda. Sem dúvida, essa iniciativa global trará resultados expressivos.
Importante dizer que Sustentabilidade e ESG são forças motrizes do negócio. São fundamentais para a compreensão mais moderna da responsabilidade das empresas com o planeta e a humanidade. E este novo papel, aumenta sua responsabilidade. O tipo de Líder para essa enorme tarefa é outro. Não mais aquele que vê a empresa como um gerador exclusivo de lucros, mas aquele que entende que ele vai gerar lucro de uma forma diferente.
Na terceira ida a Índia, junto com Raj Sisodia e Nilima Bhat, Silvia trouxe ao Brasil, o livro Liderança Shakti – equilíbrio do poder feminino e masculino nos negócios.
“Liderança Shakti é uma visão de liderança que me tirou do lugar de fazer sem proposito e me levou ao território do Ser que faz melhor”
Maria Sílvia Monteiro
A Liderança Shakti trabalha essencialmente com o nível de consciência das pessoas. Todos nós estamos em uma fase da nossa jornada, de acordo com nossa vivência, ou seja, o nível de consciência difere de pessoa para pessoa.
Nas empresas, isso não é diferente. Cada empresas tem um grau de maturidade, e é a partir desta visão que a agenda sustentável pode ser construída.
Em um mundo polarizado, o entendimento comum é que o proposito maior é incompatível com a lucratividade. Isso não é verdade.
Estamos na Era do “E”. Lucro E Proposito andam juntos. O proposito não é o diferencial da empresa. É como ela faz a diferença para as pessoas e para o clima. Portanto, Propósito é Impacto. Impacto é o número de pessoas que o negócio impacta positivamente, e isso carrega em si, a possibilidade do lucro.
A empresa que tem como valor a ganância, o ganho a qualquer custo, dificilmente verá valor em ter um proposito elevado. Ela não consegue compreender que lucro e proposito é uma dupla!
"Nível de consciência é amplitude de visão".
Maria Sílvia Monteiro
Para iniciar o processo de transformação dentro de uma empresa, deve ser feito um diagnóstico que leva vários aspectos em consideração, inclusive o nível de consciência dos líderes e dos colaboradores. A partir deste conhecimento, um plano de ação que realmente engaje as pessoas ganha potência.
Dificilmente uma empresa cujos valores e objetivos sejam baseados exclusivamente na sobrevivência financeira tem a maturidade e o espaço para temas e práticas sustentáveis. Seus líderes, certamente estão preocupados com a autopreservação de suas posições.
O resultado de uma empresa é a ponta de um iceberg que não mostra tudo que é feito (para o bem ou para o mal), para que aquele resultado apareça.
Mulheres ESG – Medir para Mudar | Prefácio: Ricardo Young | Coordenação: Dani Verdugo, Andréia Roma e Tania Moura. Idealização: Editora Leader Ano: 2023
Liderança shakti: O Equilíbrio do Poder Feminino e Masculino nos Negócios | Autores: Nilima Bhat e Raj Sisodia
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