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Alterações climáticas no Pantanal: o “pantaneiro” em risco de extinção

Pantanal - É conosco

É conosco conversou com o pesquisador *Alexandre Honig, que tem desenvolvido um projeto sobre percepção social de alterações climáticas no Pantanal e, como Oficial Técnico da Wetlands International (WI), tem dado suporte e participado das ações do Programa Corredor Azul, que ocorrem em prol da sustentabilidade socioambiental do Sistema Paraguai-Paraná de áreas úmidas, em que o bioma Pantanal está inserido.

Há diversas formas de vida coexistindo no Pantanal, todas são legítimas e, devemos dialogar, construir relações de convergência. Novos tempos, nova realidade. Precisamos estar aptos a conciliar agendas e ações. Progredir juntos!

Alexandre nos conta que com relação as alterações climáticas contemporâneas, estamos lidando com situações nunca presenciadas pela humanidade e, isso demanda muita atenção e, sobretudo, ação. Os eventos climáticos extremos, evidentemente, nos chocam pela sua magnitude. Por exemplo: cheias, secas ou incêndios florestais destroem as paisagens como as conhecemos. Há recuperação, mas, nunca ficam iguais. Principalmente, quando há populações humanas envolvidas. As relações culturais, sociais, políticas e econômicas são completamente desestabilizadas em lugares que são atingidos por estes fenômenos.

 

No Brasil, há uma preocupação adicional, a questão das chuvas - quantidade e intervalos. Para além do ponto óbvio, o consumo humano de água. O País é um grande produtor de commodities agrícolas e, mesmo com toda tecnologia disponível para o agronegócio nacional, em última instância, a água é um elemento fundamental. Sem ela, na quantidade e nos momentos certos, os custos se tornam elevados e, a quantidade e qualidade dos produtos ficam prejudicados, colocando as cadeias produtivas locais e internacionais em risco. Assim, tem havido um rompimento de paradigma no campo (lento ainda), em que o setor deve adotar discursos, políticas e ações de gestão e técnicas voltadas à sustentabilidade. Não apenas nas propriedades, mas, nos biomas como um todo.

Sob risco de tomarem grandes prejuízos e comprometerem seu desempenho no mercado global, espero que o agro brasileiro seja mais ambientalista que os próprios ambientalistas!

Sobre as alterações climáticas no Pantanal, há diversos estudos científicos de Universidades nacionais e internacionais, que têm apontado evidências do fenômeno das alterações climáticas no Pantanal.

 

Em sua investigação, Alexandre tem percorrido as sub-regiões do bioma, ouvindo e registrando as perspectivas dos “pantaneiros” sobre o fato.

 

Homens e mulheres com mais tempo de vida neste lugar, percebem e relatam as diferenças do clima ao longo do tempo e, como isso lhes afeta o cotidiano. Cheias e vazantes ditam o ritmo de vida e produção no Pantanal e, quando isso se desregula, fica muito mais complicado estar nesse lugar.

Pescadores mais experientes, que estiveram a vida toda nas águas do Pantanal, têm se impressionado com as secas cada vez mais prolongadas.

 

O pesquisador nos encaminhou a fala de um pescador de Miranda (MS).

Nossos filhos e netos não são mais pescadores profissionais! Não se consegue mais ter uma vida digna assim. Foram todos morar e trabalhar nas cidades, deixaram o Pantanal! 

A pecuária local, que tanto encantou os brasileiros que assistiram a novela “Pantanal” (Globo), com suas técnicas e tradições, igualmente, vive dificuldades. A estiagem prolongada, impacta negativamente na oferta de pastos para o gado. Com as “invernadas” degradadas, espécies vegetais invasoras tomam conta do lugar, ocupando o espaço, mais manejo se torna necessário e, os custos se elevam, fragilizando a atividade econômica tradicional. Com essa situação, até fazendas históricas são abandonadas, criando grandes espaços sem ocupação humana.


Um pecuarista “pantaneiro” de Aquidauana (MS), relatou:

Como não há ninguém vivendo e trabalhando em várias fazendas da região, quando há o início de um incêndio nestes lugares, a gente só vai ficar sabendo quando o fogo já tomou conta e, já está incontrolável! Aí se queima tudo! Bicho, planta, boi, gente (...), o que houver no caminho vira brasa e pó. E, vai se alastrando, o fogo corre, é uma tristeza só!

Alexandre nos conta que o Pantanal possui um significado muito especial para ele e comenta:

Faz parte da minha identidade, do meu trabalho, da minha vida

Com a seca histórica pela qual o bioma está passando, os incêndios florestais estão intensos neste ano. No Brasil, o fogo já ultrapassou marcas históricas, os focos de incêndio já se ampliaram em mais de 980% com relação àqueles de 2023 e, as áreas queimadas já são 54% maiores do que em 2020. Vale ressaltar que, também, já se registram incêndios nas regiões do Chaco (Paraguai) e, também, no Pantanal boliviano.

 

Para além de um bioma único e especial, o Pantanal é uma paisagem cultural, em que homens e mulheres vivem suas existências em contato direto com a natureza e, assim, as alterações climáticas e seus eventos extremos colocam em sério risco de extinção: a fauna, a flora e os “pantaneiros”. 

 

Por fim, é preciso observar, estudar e, implementar ações de adaptação climática urgentes, para que se mantenham, da melhor forma possível, as populações no Pantanal, para que este lugar seja admirado e ocupado pelas próximas gerações de modo positivo e propositivo. Está é uma tarefa improrrogável, que demanda energia e recursos do Estado, da população, da iniciativa privada e do terceiro setor. Esta cooperação já se iniciou e, cuidar para que esta jornada se mantenha produtiva é dever de todos nós!

 
Alexandre Honig - É conosco

*Alexandre Honig, nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, estudou em vários lugares e, passou boa parte da vida em Nova Andradina, no interior do estado. É Internacionalista e Geógrafo, está desenvolvendo seu segundo pós-Doutorado pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e, também, ocupa o cargo de Oficial Técnico na ONG Wetlands International Brasil.


@alexandre.honig



@wetlandsintbr

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